As mulheres representam precisamente 51% do quadro de servidores públicos do Estado. Algumas delas estão à frente de órgãos e secretarias, liderando equipes de trabalho e tomando, diariamente, decisões importantes para o desenvolvimento do Estado. Este é o caso, por exemplo, de Alice Viana, responsável por umas das tarefas mais importantes na administração pública paraense.
Titular da Secretaria de Estado de Administração (Sead), ela tem o desafio de promover valorização e reconhecimento dos servidores, ao mesmo tempo em que lida com a balança ferrenha das contas públicas. “Considero ter mais realizações e desafios do que dificuldades, tendo em vista a dimensão transversal das ações desenvolvidas pela Sead. Trata-se de uma pasta essencial ao desenvolvimento das diversas políticas públicas e trata do seu maior capital, que são os recursos humanos”, afirma.
Servidora de carreira, Alice Viana já havia integrado a equipe de governo no primeiro mandato do governador Simão Jatene como adjunta da própria Sead. Em seus 22 anos de serviço público, o momento que mais lhe marcou em sua trajetória profissional ocorreu quando recebeu o convite do governador para assumir o órgão em que fez carreira como técnica. “Pelo reconhecimento e confiança depositados em mim, para gerir um órgão tão complexo e de tanta responsabilidade”, explica.
Antes de assumir a Companhia de Habitação do Pará (Cohab), a jornalista Noêmia Jacob, 48 anos, fez carreira como servidora da Caixa Econômica Federal. “Nunca me enxerguei como alguém que pudesse estar em um cargo executivo porque achava que o jornalismo era o ponto mais importante da minha carreira. Quando passei no concurso da Caixa comecei trabalhando na área de comunicação social. Em 94 houve uma reestruturação interna e tive que fazer uma opção. Acabei escolhendo trabalhar na área de planejamento”, recorda. O novo cargo acabaria sendo decisivo para que assumisse, posteriormente, a gerência nacional de planejamento da Caixa.
A vinculação da Caixa Econômica com habitação fez com que a jornalista se apaixonasse pela pauta. Logo depois Noêmia assumiu a superintendência regional da Caixa no Pará, onde permaneceu por cinco anos. Depois, o mesmo cargo no Amazonas, de onde veio para assumir a Companhia de Habitação. “Embora tudo tenha acontecido sem um planejamento de carreira, acredito que tenha ocorrido nos momentos certos porque é impossível não se apaixonar por habitação, não acreditar que e possível fazer a diferença. Se tivesse que fazer novamente as escolhas que fiz para chegar até aqui teria feito. Nada paga quando você vê a vida de alguém transformada”, diz.
A chefe do Cerimonial do Governo do Pará, Lúcia Penedo, 67 anos, acumula diversas experiências no Executivo. Bacharel em Ciências Jurídicas, Penedo iniciou sua carreira profissional como empresária, fundou na década de 90 a Associação de Mulheres de Negócios (BPW) de Belém e integrou a equipe de governo de Almir Gabriel. Foi secretária adjunta de Esporte de Lazer (Seel) e, posteriormente, titular. Também esteve à frente do Grupo de Trabalho da Copa 2014 e da Organização Social Pará 2000.
“Todos esses cargos de alguma forma me garantiram o que mais gosto de fazer, que é contribuir com o governo e com a sociedade, fazendo ainda com que haja uma projeção profissional da mulher, que também foi algo que busquei por que acreditar que as mulheres têm que ocupar suas posições no mercado de trabalho, tanto na esfera pública quanto na empresarial. Não existe diferença de competência entre homens e mulheres”, defende. Atualmente, Lúcia Penedo coordena uma equipe de 12 pessoas no cerimonial, com a responsabilidade de preparar os eventos em que o governador estiver presente.
Turismo
Socorro Costa, 44, presidente da Companhia Paraense de Turismo (Paratur), afirma não ter sentido diferenças em sua trajetória pessoal de profissional simplesmente por ser mulher. “Claro que existem ainda inúmeras situações que precisam ser avaliadas, existem tomadas de decisões que precisam do nosso bom senso, mas aos poucos as mulheres estão conquistando seus espaços”, afirma Socorro, que é administradora e especialista em gestão pública, com experiência também em empresas privadas. Desde o ano passado, ela tem a missão de divulgar, promover e executar ações de marketing do turismo paraense, direcionada pelo Plano Estratégico Ver-o-Pará. “Não há dificuldades, mas sim desafios como em qualquer outra missão que precisam ser conduzidos com bom senso e sabedoria”.
A vida da artista plástica Dina Oliveira, 61, está entrelaçada com a história do Curro Velho, fundação da qual, atualmente, é superintendente. Formada em arquitetura pela Universidade Federal do Pará (Ufpa), Dina participou dos projetos de arte-educação que subsidiaram a criação da fundação, e também esteve envolvida na reforma e adequação do prédio do Curro Público de Belém – tombado após longas temporadas de abandono -e que passou a abrigar as atividades da fundação, no bairro do Telégrafo.
De lá para cá, Dina Oliveira acompanhou de perto os passos dados pelas mulheres dentro do Curro Velho. Segundo ela, a participação feminina nas oficinas cresceu de forma significativa ao longo dos anos. “O que mais chama atenção é transformação desse público, de ver mulheres que, embora não tenham tido tanta oportunidade de ir para escola, acumularam um saber e uma habilidade manual enorme para realizar atividades. Não é só ver a participação delas, mas ver o momento mágico em que, ao participarem das oficinas, elas se tornam geradoras de conhecimento e de sua própria renda”, comenta.
Santa Casa
Servidora da Santa Casa desde 1992, Eunice Begot, 55, atual presidente da fundação, também acredita que sua história de vida se confunda com a história do hospital. Após se formar em Nutrição pela Ufpa, em 1980, ela recorda que deixou a cidade no ano seguinte, em busca de trabalho e aperfeiçoamento profissional. “Retornando a Belém, comecei a nutrir um forte desejo de trabalhar na Santa Casa”.
Ela permaneceu no hospital até 2008, coordenando o Banco de Leite Humano. Em 2011, a servidora retornou ao hospital, dessa vez para coordenar a comissão de transição de gestão do hospital. “O primeiro ano de gestão foi extremamente difícil, com muitos conflitos para administrar. Encontramos servidores desestimulados e este tem sido nosso maior desafio: melhorar a autoestima dos nossos servidores, estimulando-os a prestar uma assistência humanizada, com competência e responsabilidade. Outro desafio tem sido a conscientização dos gestores municipais que tudo demandam para nosso hospital, levando-nos a uma constante situação de superlotação”, avalia a presidente.
Na Santa Casa, a participação das mulheres também tem sido fundamental para o funcionamento da fundação. Dos 2.786 servidores, cerca de 75% são mulheres. Eunice Begot também destaca que, por ser referência em gestação e neonatologia de alto risco, o público da Santa Casa também é, em sua maior parte, de mulheres. “Quando avaliamos a importância do nosso trabalho na vida destas mulheres, nos damos conta que de uma missão que vai além do ponto de vista da saúde e abrange um cuidado de forma integral”, acrescenta.
Tesouro
A secretária adjunta do Tesouro da Secretaria da Fazenda (Sefa), Adélia Macedo, administra uma equipe de 36 profissionais. Destes, 28 são mulheres. “Apesar de ainda existirem barreiras culturais de preconceitos, é cada vez mais notória a evolução da mulher no mercado de trabalho. A cada dia ocupamos mais postos, conquistamos melhores salários e assumimos mais cargos de liderança. E tudo isso sem deixar de lado outros compromissos, como o de administrar casa, filhos, família e projetos pessoais, sem grandes prejuízos de nenhum dos lados. Conciliar é a palavra”.
A rotina de afazeres da maioria das mulheres se estende, quase sempre, depois do expediente de trabalho. “Como tantas outras mulheres, exercito este desafio a cada dia. Sou casada, tenho dois filhos, meus pais ainda estão presentes e ocupo um lugar que requer dedicação, atenção, comprometimento e equilíbrio. No cargo de secretária adjunta do Tesouro Estadual enfrento diariamente o desafio de fazer a gestão dos recursos da administração pública. Estão sob minha responsabilidade o acompanhamento do endividamento do Tesouro Estadual, a Contabilidade Geral do Estado, a gestão do Sistema Integrado de Administração Financeira para estados e Municípios (Siafem), o acompanhamento e monitoramento das receitas estaduais e a descentralização dos recursos do Tesouro a todos os órgãos estaduais e poderes, e em ultima instância o monitoramento do equilíbrio das contas estaduais”, explica.
Conciliar as atividades familiares e profissionais requer esforço. “Esse é o desafio da mulher moderna. No mundo atual, uma executiva precisa saber organizar-se e direcionar seus objetivos, para encontrar esse ponto de equilíbrio, e assim, evitar a tão propalada ‘culpa’ por ter esquecido algo. Além disso, é preciso reconhecer que os homens também vêm mudando ao longo do tempo, passaram a colaborar mais, para que nós mulheres possamos também nos dedicar mais à vida profissional. Eles tem se mostrado mais tolerantes e mais compreensivos”.
Texto: Agência Pará